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O Futuro dos Eventos

Futuro dos Eventos

O Futuro dos Eventos

Podíamos dizer que 2020 foi um ano para esquecer, mas não seria justo. 2020 foi um ano de adaptação e aprendizagem, de quebra abrupta com o sistema. De reinvenção. O que foi feito em 2020 para mostrar qual é o futuro dos eventos?

Se outras revoluções demoraram anos a surtir efeito na indústria musical, esta foi brutal e nada será como dantes. Basta recordar como a pirataria arruinou o negócio muito proveitoso de venda de música gravada e como os seus efeitos nefastos demoraram anos a ser sentidos. Em contraste, se a pirataria foi um evento subtil, que provocou a erosão do negócio físico da música ao longo de décadas, a pandemia foi um evento de extinção à escala global.   

Em primeiro lugar, 2020 arrasou a maior fonte de sustento de quem vive da música: os eventos ao vivo. Não só dos artistas mas de todo um ecossistema. Neste incluem-se técnicos de som e luz, pessoal de produção e logística, road managers, runners, e tantos outros que, na sombra, fazem a magia dos eventos acontecer. Além destes, promotores, produtores, donos de bares e discotecas.  Se em Março de 2020 oscilávamos entre a dúvida se seria possível regressar aos eventos no Verão, em Janeiro de 2021 temos a certeza que os eventos dificilmente regressarão antes do Outono. Esta previsão é optimista e parte do princípio que, nessa altura, já teremos imunidade de grupo e os grupos de risco vacinados e protegidos. 

O Salto de Fé

No entanto, logo após um período de dormência inicial, da revolta que se lhe seguiu, um grupo de promotores deu o salto de fé para o futuro e organizou um livestream de acesso pago com sucesso. A PDA 2019 – 2021 fez história e conseguiu acumular mais de 27 mil visualizações, num evento online, com um cartaz diverso e totalmente nacional. Mais do que isto, usou ferramentas disponíveis apenas no digital para saber que artistas vendem, de facto, mais bilhetes com links de compra dedicados. Trazendo a tão necessária digitalização e transparência a esta área da indústria musical. 

E Agora DJ?

Neste futuro digital, o melhor amigo dos DJs será a Realidade Virtual (VR). Não é por acaso que a Sensorium Galaxy contratou David Guetta, Carl Cox, Black Coffee e Dimitri Vegas e Like Mike. A experiência imersiva, próxima do gaming (a Sensorium recupera os avatars e suas roupas pagas de jogos como o Fortnite, acrescentando camadas de monetização à plataforma), com cenários oníricos a lembrar a experiência do Tomorrowland será uma alternativa paga mais convincente para a música electrónica.  

Ric Salmon, CEO da Driift, a empresa que organiza livestreams rentáveis de estrelas mundiais, afirmou na Web Summit que há dois géneros musicais que não funcionam em livestream. São eles a electrónica, por existir demasiado conteúdo gratuito online, e o hip hop. Ora, no caso do hip hop a razão prende-se pelo facto de o público deste género não estar habituado a pagar por shows. Evidentemente que este racional não se aplica a grandes estrelas pop. Mas nenhum artista se deve comparar a estrelas da pop, o que estas fazem não é aplicável a realidades locais ou regionais. 

Digital Versus Real

Apesar deste salto de fé, não creio que o digital – seja ele livestream ou Realidade Virtual (VR) – alguma vez substitua a experiência real. Nada é comparável a ver e ouvir um artista que admiramos ao vivo, seja em frente a um palco ou a uma cabine num clube escuro e suado. 

No entanto, estas soluções são, primeiramente, o substituto possível para a ausência de eventos e, seguidamente, um complemento importante para aumentar a receita de bilheteira, ao permitir que pessoas impedidas de se deslocar possam assistir virtualmente. Quantas vezes vimos artistas a actuar em Paris, Madrid ou Londres e sem data em Portugal? Se pudessem ver esses concertos em directo não pagariam um bilhete mais barato? Ou ainda espectáculos que são noutras cidades e que, por qualquer motivo, não podemos deslocar-nos até lá? Desde que possamos participar em tempo real, ver e ouvir provavelmente em melhores condições do que ao vivo, não pagariam bilhete?

Em conclusão, se há algo que todas as crises na indústria musical já nos deveriam ter ensinado é que não devemos nem temer ou resistir ao futuro. E este passa pelas soluções tecnológicas e digitais. Abracemo-lo. 

Em virtude de aprofundar o debate, e ouvir as opiniões de personalidades da indústria musical nacional, lê este artigo ou vê o debate

Sónia Silvestre, Janeiro 2021

About the Author /

sonia.silvestre@gmail.com

Editora, de 2000 a 2011, da revista Dance Club. Durante mais de uma década escreveu e entrevistou muitos DJs e produtores de todos os géneros musicais, de Carl Cox, Erick Morillo, Todd Terry, David Guetta, a Dubfire, entre muitos outros. Escreveu para outras revistas e publicações, como a inglesa Musik. Em 2008 foi convidada para moderar o único painel sobre a cena electrónica portuguesa no Amsterdam Dance Event, o Focus On Portugal. Integrou a WDB Management, onde exerceu como Brand Manager até ao final de 2018. Durante este tempo participou na gestão de carreiras dos artistas no que toca à comunicação, promoção, gestão de patrocínios e a relação com as editoras. Fez parte da equipa em eventos como: a One Last Tour dos Swedish House Mafia em Lisboa; as duas datas do I Am Hardwell em Lisboa; o Mega Hits Kings Fest; e o RFM Somnii, de 2012 a 2018, entre outros. Em 2019 começou a trabalhar directamente com os artistas e é Manager.